Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), em 2017 pelo menos 2.835 pessoas se afogaram tentando a travessia marítima da Líbia para a Europa. A OIM também observou que, em 2017, o número de pessoas resgatadas e levadas em segurança para portos da Itália foi o mais baixo em quatro anos – cerca de 120 mil.
A queda nos números de pessoas que partem da Líbia foi saudada por muitos como um sucesso, já que significou um número menor de vidas perdidas no mar. Mas, na realidade, a diminuição foi resultado de acordos entre a Líbia, Itália e União Europeia (UE) como parte de uma estratégia mais ampla para isolar a costa da Líbia e "conter" refugiados, solicitantes de asilo e migrantes num país onde são expostos a violência e exploração extremas e generalizadas.
A guarda costeira da Líbia, apoiada pela UE, intensificou suas atividades em águas internacionais, interceptando refugiados e migrantes, devolvendo-os para a Líbia. Embora essas atividades sejam apresentadas como "operações de resgate", migrantes e refugiados não estão sendo devolvidos a um porto de segurança. Em inúmeras ocasiões, navios da guarda costeira da Líbia demonstraram comportamento ameaçador e violento em relação às embarcações desarmadas de ONGs que realizavam operações de busca e salvamento. Em maio, MSF testemunhou uma embarcação da guarda costeira da Líbia disparando para o alto ao se aproximar de um barco em perigo, ameaçando ainda mais a vida de refugiados e migrantes a bordo.
Em um ambiente cada vez mais hostil, em que políticos da Itália e de outros países europeus tentaram minar o apoio público às operações de busca e salvamento, as ONGs enfrentaram acusações infundadas de colaboração e conluio com traficantes. O código de conduta proposto pelo Ministério do Interior italiano legitimou uma longa campanha política para desacreditar as ONGs, que já operavam dentro de uma estrutura legal clara e alinhada com todas as leis nacionais, internacionais e marítimas. Um navio de resgate foi apreendido na Itália e ainda aguarda julgamento, e também um grupo de patrulha nacionalista fretou seu próprio barco por várias semanas, a fim de interromper premeditadamente as atividades que salvam vidas.
Apesar disso, as equipes de MSF nos navios de busca e salvamento Prudence e Aquarius (este último em parceria com a ONG SOS MEDITERRANÉE) conseguiram resgatar 23.852 refugiados e migrantes de embarcações impróprias e trazê-los para um porto de segurança na Itália em 2017. Como resultado da queda no número de barcos que alcançam águas internacionais, em outubro MSF decidiu suspender temporariamente seu barco Prudence.
Médicos de MSF trataram pessoas com ferimentos sofridos na Líbia e ouviram seus relatos de violência e abuso. Muitos pacientes também tiveram infecções graves na pele ou queimaduras químicas, e durante os meses de inverno, a equipe detectou muitos casos de hipotermia. Mais de 10% de todas as mulheres resgatadas eram gestantes. Dois bebês nasceram a salvo a bordo dos navios de MSF e foram chamados de Mercy e Christ. A equipe também recuperou 13 cadáveres.