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Além do crescente número de pessoas deslocadas internamente,Etiópia: relatório sobre a resposta humanitária, n. 19, nov. 2018. a Etiópia hospeda o segundo maior número de refugiados na África — mais de 900 mil no fim de 2018, a maioria do Sudão do Sul, da Somália e da Eritreia.
Médicos Sem Fronteiras (MSF) continua a preencher lacunas nos cuidados de saúde e a responder a emergências que afetam as comunidades locais, os deslocados internos e os refugiados.
Resposta a emergências
Em julho, lançamos uma de nossas maiores respostas de emergência de 2018 em torno de Gedeo, na região de RNNPS, e de Guji, na região de Orômia, após uma escalada da violência étnica que deixou centenas de milhares de pessoas deslocadas e desprovidas de serviços básicos. Quando nossas equipes chegaram, as pessoas estavam vivendo em condições precárias, dormindo no chão em prédios vazios, sofrendo com diarreia, parasitas intestinais e infecções do trato respiratório. Apoiamos vários hospitais, centros de saúde, postos de saúde e clínicas móveis até o fim do ano, quando a crise diminuiu e pudemos repassar as atividades às autoridades locais.
Entre julho e dezembro, realizamos cerca de 91 mil consultas ambulatoriais, tratamos por volta de 3 mil crianças com desnutrição aguda grave e vacinamos mais de 103.800 com menos de 15 anos de idade contra o sarampo em uma campanha preventiva organizada em colaboração com o Escritório Regional de Saúde em Gedeo. A equipe de MSF também ofereceu apoio de saúde mental, tratou sobreviventes de violência sexual, distribuiu itens essenciais de emergência e transportou 69 milhões de litros de água potável em caminhões.
Em outubro, lançamos outra ação de emergência para atender às necessidades das pessoas deslocadas pela violência a leste de Wellega, na fronteira entre as regiões de Benishangul-Gumuz e Orômia. Nossas equipes concentraram-se em atendimentos de emergência, água e saneamento e, no fim do ano, expandiram essas atividades para a cercania de Wellega Oeste.
Região de Gambella
Em 2018, aumentamos nosso apoio ao hospital de Gambella, a única instalação na região que oferece assistência médica especializada para uma população de 800 mil habitantes, metade dos quais refugiados do Sudão do Sul. Nossas equipes trabalharam no pronto-socorro, no centro cirúrgico e na unidade de internação cirúrgica, e auxiliaram 2.280 partos. Mantivemos nosso foco nos serviços de neonatologia e maternidade, para reduzir as altas taxas de mortalidade materno-infantil.
Também trabalhamos com as autoridades etíopes nos campos de refugiados de Kule, Nguenyyiel e Tierkidi, que, juntos, abrigam cerca de 200 mil refugiados sul-sudanesesAgência da ONU para Refugiados, Acnur bem como no centro de recepção de Pamdong. Equipes trabalharam em um centro de saúde, em uma maternidade 24 horas e em seis postos de saúde, oferecendo, em sua maioria, serviços médicos, incluindo apoio a sobreviventes de violência sexual e encaminhamentos para cirurgias no hospital de Gambella.
Região de Tigray
A assinatura do acordo de paz entre Etiópia e Eritreia em julho e a abertura da fronteira em 11 de setembro levaram a um influxo de eritreus reivindicando asilo, principalmente mulheres e crianças. Oferecemos serviços de saúde mental e psiquiátrica, tanto com internação quanto no ambulatório, para refugiados eritreus em dois campos e para as comunidades locais. Muitos de nossos pacientes da Eritreia relataram experiências traumáticas em casa, em sua viagem para a Etiópia e nos campos.
Região de Amara
Nosso foco na cidade de Abdurafi e seus arredores é o tratamento, o diagnóstico e a prevenção de calazar (leishmaniose visceral) e de envenenamento por picada de cobra, duas doenças tropicais mortais, mas negligenciadas. Em 2018, as equipes em nossa clínica trataram 647 pacientes de picada de cobra e 369 de calazar. Pesquisas sobre calazar em Abdurafi são realizadas desde 2002 em conjunto com o Instituto de Medicina Tropical da Antuérpia, a Universidade de Gondar e o Instituto de Saúde Pública da Etiópia, procurando desenvolver melhores métodos de tratamento para casos complicados, além de melhorar os métodos de prevenção. A equipe também tenta encontrar um tratamento mais eficaz contra a picada de cobra.
Região Somali
Desde 1995, temos equipes trabalhando na cidade de Dolo, na zona de Liben, na fronteira com a Somália. O centro de saúde em Dolo Ado oferece cuidados básicos de saúde para a comunidade local e pessoas que fugiram da insegurança alimentar na Somália e estabeleceram-se em cinco campos na área. Também tratamos muitos cidadãos somalis que atravessam a fronteira em busca de assistência médica. No fim do ano, repassamos todas as nossas atividades no centro de saúde às autoridades de saúde, exceto maternidade e obstetrícia.
Também repassamos nossas atividades médicas no hospital Wardher e nos centros distritais de saúde em Danod e Lahel-Yucub, na zona de Doolo, ao Escritório Regional de Saúde no fim do ano. Desde 2007, estivemos apoiando serviços ambulatoriais e de internação, atividades de água e saneamento e encaminhamentos de emergência. Mantivemos unidades de isolamento durante surtos de doenças, assistimos partos e prestamos assistência pré-natal, tratamento para tuberculose e para desnutrição aguda grave em crianças com menos de 5 anos de idade.
Também oferecemos cuidados primários abrangentes em clínicas móveis em mais de 10 locais na área de Doolo para crianças com menos de 15 anos de idade, além de gestantes e lactantes. Nosso plano é expandir essas atividades móveis para oferecer atendimento a todas as idades, bem como a vigilância de surtos de doenças, ações de envolvimento da comunidade e promoção da saúde, cobrindo uma área mais ampla para alcançar mais pessoas, incluindo as comunidades pastoris nômades.
Migrantes deportados
Desde novembro de 2017, a Arábia Saudita tem expulsado os migrantes que vivem irregularmente em seu território. Uma média de 10 mil etíopes são deportados a cada mês em aviões fretados que chegam semanalmente a Adis Abeba, capital da Etiópia, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações. Iniciamos em março o fornecimento de exames de saúde física e mental, além de assistência no aeroporto e em um centro na cidade.Apesar do trauma que a maioria de nossos pacientes experimentou, muitos tentaram fazer a perigosa travessia do mar Vermelho de volta à Arábia Saudita.